Com sua versatilidade gastronômica, preço competitivo e perfil refrescante, a Chenin Blanc tem tudo para se tornar a nova queridinha dos brasileiros
Postada em 13/10/2025 às 09:03
Por Glaucia Balbachan
Durante muito tempo, a Chenin Blanc foi vista como uma uva coadjuvante — versátil, sim, mas raramente protagonista. Isso até encontrar, na África do Sul, um novo lar. Hoje, ela é a uva branca mais plantada do país e símbolo de uma revolução silenciosa que une tradição, terroir e inovação. E agora, começa a conquistar também o paladar brasileiro.
Uma História de Adaptação e Renascimento
Originária do Vale do Loire, na França, a Chenin Blanc chegou à África do Sul no século XVII com os colonizadores europeus. Por décadas, foi usada principalmente para vinhos de mesa e destilados. Mas nas últimas duas décadas, produtores visionários passaram a enxergar seu verdadeiro potencial: uma uva capaz de expressar o terroir com precisão e produzir vinhos de altíssima qualidade.
Hoje, a África do Sul é o maior produtor mundial de Chenin Blanc, com cerca de 17 mil hectares plantados, o equivalente a quase 18% da área total de vinhedos do país.
Terroir Sul-Africano: Diversidade que encanta
A Chenin Blanc encontrou na África do Sul um ambiente ideal para se reinventar. As principais regiões produtoras — Stellenbosch, Swartland, Paarl, Breedekloof e a emergente Cape Town Coast — oferecem uma combinação de:
Clima mediterrâneo: verões quentes e secos, invernos frios.
*Solos variados: granito, argila, arenito e calcário, que influenciam diretamente o perfil dos vinhos.
*Vinhedos antigos: muitos com mais de 40 anos, que produzem uvas concentradas e complexas.
*Influência marítima: especialmente na Cape Town Coast e em regiões como Durbanville e Constantia, onde as brisas do Atlântico trazem frescor e mineralidade aos vinhos.
Essa diversidade permite a produção de estilos que vão desde os vinhos frescos e cítricos, ideais para o verão, até os encorpados e envelhecidos em barrica, com camadas de frutas tropicais, mel e especiarias.
Sustentabilidade e Viticultura Regenerativa: O Compromisso Sul-Africano
A África do Sul tem se destacado não apenas pela qualidade de seus vinhos, mas também pelo compromisso crescente com práticas sustentáveis e regenerativas na viticultura. Produtores de Chenin Blanc estão na vanguarda dessa transformação, adotando métodos que respeitam o meio ambiente e promovem a saúde do solo e da biodiversidade.
Práticas em destaque:
Viticultura regenerativa: foco na restauração da vida do solo, uso de coberturas vegetais, compostagem e manejo holístico das vinhas.
Redução de insumos químicos: muitos produtores estão migrando para o uso mínimo ou nulo de pesticidas e fertilizantes sintéticos.
Conservação da água: técnicas de irrigação eficiente e aproveitamento de chuvas são comuns, especialmente em regiões mais secas como Swartland.
Biodiversidade: vinhedos são integrados a corredores ecológicos, com preservação de espécies nativas e incentivo à fauna local.
Certificações ambientais: diversas vinícolas participam de programas como o IPW (Integrated Production of Wine), que monitora práticas sustentáveis desde o vinhedo até a vinificação.
Produtores como Backsberg, Boschendal e Fryer’s Cove têm investido fortemente em sustentabilidade, com iniciativas que vão desde a neutralidade de carbono até projetos de reflorestamento e educação ambiental.
Esse movimento não é apenas uma tendência — é uma resposta consciente às mudanças climáticas e uma forma de garantir que a Chenin Blanc continue expressando o melhor do terroir sul-africano por muitas gerações.
Degustação em São Paulo: A Chenin em Cena
Em uma degustação especial com jornalistas e especialistas em São Paulo, promovida pelo caviste e embaixador da DGB sul afriacana - no Brasil João Felipe Clemente, produtores sul-africanos mostraram a riqueza e a pluralidade da Chenin Blanc por meio do gerente de exportação da DGB - Jorge Ferreira.
Backsberg
Localizada entre Paarl e Stellenbosch, é pioneira em sustentabilidade.
Seu Chenin Blanc é leve, com notas de maçã verde e pera, e final refrescante.
Boschendal
Uma das vinícolas mais antigas do país (desde 1685).
Produz rótulos elegantes, com aromas florais, frutas brancas e excelente equilíbrio.
Fryer’s Cove
Vinhedos costeiros, próximos ao Atlântico, em terroir extremo.
O vinho traz salinidade, acidez vibrante e mineralidade marcante.
Bellingham
Fundada em 1693, é referência em vinhos de vinhas velhas.
O “The Bernard Series Old Vine Chenin Blanc” impressiona pela textura cremosa, frutas tropicais e potencial de guarda. O rótulo Pear Tree, vinho leve, fresco a saboroso, traz no rotulo a pereira que existe até hoje. ( foto acima)
Anemos
Projeto artesanal e contemporâneo, com foco em mínima intervenção.
Seu Chenin Blanc é turvo, fermentado com leveduras indígenas, vibrante e cítrico.
O Brasil Descobre a Chenin
A Chenin Blanc sul-africana está começando a ganhar espaço no mercado brasileiro. Importadoras já oferecem rótulos premiados, e sommeliers têm incluído a uva em cartas de vinho de restaurantes modernos e naturais.
Com sua versatilidade gastronômica, preço competitivo e perfil refrescante, a Chenin Blanc tem tudo para se tornar a nova queridinha dos brasileiros — especialmente em tempos de busca por vinhos autênticos, sustentáveis e cheios de personalidade. O Cabernet Franc ( adorável), na imagem ainda não está disponível no Brasil, mas João está trabalhando nisso.
Serviço: Chenin Blanc
Onde encontrar: Vino & Sapore
Rua José Félix de Oliveira 875 – Granja Viana-SP
Fotos: Empratado