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Uva resistente a fungos é tema de tese no Brasil e pode mudar o futuro da vitivinicultura

Pesquisa interdisciplinar conecta história ambiental e genética vegetal


Postada em 21/05/2025 às 21:16
Por Glaucia Balbachan


Santa Catarina acaba de ganhar destaque internacional no mundo do vinho com a conclusão de uma tese de doutorado que pode influenciar diretamente o futuro da vitivinicultura no Brasil e no exterior. O historiador ítalo-brasileiro Dr. Gil Karlos Ferri defendeu, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a pesquisa inédita intitulada "Variedades PIWI: a vitivinicultura no Planalto de Santa Catarina (Brasil) e as pesquisas de melhoramento genético de videiras sob a perspectiva da História Ambiental Global". (foto acima: Dr. Gil Karlos Ferri)

A tese traz uma contribuição singular ao unir Ciências Humanas e Ciências Naturais para abordar um tema crucial: o cultivo de uvas geneticamente resistentes a doenças fúngicas. São as chamadas variedades PIWI — sigla derivada do alemão Pilzwiderstandsfähig, que significa "resistente a fungos". Essas uvas são resultado de cruzamentos genéticos cuidadosamente realizados, com o objetivo de reduzir drasticamente o uso de agrotóxicos nas lavouras e tornar o setor vitivinícola mais sustentável.

Por que isso importa?
O cultivo tradicional da Vitis vinifera, espécie mais comum para produção de vinhos finos, enfrenta grandes desafios nas condições climáticas e de solo do Planalto Catarinense. O clima úmido da região favorece a proliferação de doenças fúngicas como o míldio e o oídio, o que obriga viticultores a aplicarem frequentes e intensivos tratamentos químicos. Isso representa altos custos econômicos e sérios impactos ambientais.

A pesquisa de Ferri investiga como pesquisadores da EPAGRI, da UFSC, e de instituições europeias como a Fondazione Edmund Mach (Itália) e o Julius Kühn-Institute (Alemanha) vêm atuando, em cooperação, no desenvolvimento dessas novas variedades resistentes, oferecendo uma alternativa promissora para uma produção de vinho mais limpa e eficiente.

História, ciência e sustentabilidade
O estudo tem como pano de fundo a história ambiental da vitivinicultura catarinense, documentando a evolução do setor e os esforços contínuos de inovação. Utilizando fontes como documentos técnicos, registros oficiais, entrevistas e fotografias, a tese traça um panorama histórico do melhoramento genético das videiras e contextualiza os avanços dentro de uma lógica de sustentabilidade global.

Sob orientação da historiadora ambiental Dra. Eunice Sueli Nodari e coorientação do geneticista vegetal Dr. Rubens Onofre Nodari, Ferri levou a pesquisa a um patamar interdisciplinar raro, conectando áreas como história, agronomia, genética, ecologia e enologia.

A experiência internacional do doutorando, que participou do programa Doutorado-Sanduíche no Exterior (PDSE/CAPES) na Itália, permitiu aprofundar o entendimento sobre o cenário global das pesquisas em PIWI, especialmente na região do Trentino-Alto Ádige, um dos centros mais avançados em inovação vitivinícola sustentável.

Impacto global e novas possibilidades
Os resultados da tese apontam para um novo paradigma na produção de vinhos e espumantes, mais resiliente às mudanças climáticas e menos dependente de insumos químicos. As variedades PIWI têm o potencial de revolucionar a forma como o vinho é produzido, oferecendo novas possibilidades para vinicultores, sommeliers, pesquisadores e consumidores preocupados com a origem e o impacto ambiental do que consomem.

Além disso, o trabalho de Ferri abre portas para novos estudos interdisciplinares e pode se tornar uma referência fundamental para políticas públicas, programas de pesquisa e ações educativas voltadas à sustentabilidade no campo e na taça.

A tese na íntegra, com 400 páginas, pode ser acessada através do seguinte link: <https://repositorio.ufsc.br/123456789/264150>.

 Foto: Divulgação